As férias terminam. A mala já está arrumada, o despertador volta a tocar cedo, e recomeçam os emails, as reuniões, os prazos. Para muitos, este momento é vivido com alguma resistência, tristeza ou até ansiedade — um fenómeno comum, conhecido como síndrome pós-férias.
Mas será normal sentirmo-nos assim?
Como é que podemos fazer esta transição de forma mais saudável e equilibrada?
Neste artigo, exploramos o regresso ao trabalho após as férias, no contexto português e com base nos contributos da Psicologia.
O que é o “síndrome pós-férias”?
Apesar de não ser algo reconhecido nos manuais de diagnóstico, o termo “síndrome pós-férias” tem sido usado para descrever um conjunto de sintomas psicológicos e físicos que algumas pessoas experienciam ao regressar ao trabalho, após um período de descanso.
Os sintomas mais comuns incluem:
- Falta de motivação
- Dificuldade de concentração
- Cansaço persistente
- Alterações de humor (irritabilidade, tristeza)
- Perturbações do sono
- Sensação de vazio ou frustração
Estes sinais tendem a desaparecer após alguns dias ou semanas. No entanto, quando se mantêm ou se agravam, podem estar a revelar problemas mais profundos, como burnout, insatisfação profissional ou desequilíbrio entre vida pessoal, laboral e, social.
Em Portugal, como é vivido este regresso?
Em Portugal, o período de férias protegidos por lei, é de 22 dias úteis por ano (Artigo 238.º do Código do Trabalho).
Para muitos trabalhadores, especialmente em agosto ou dezembro, as férias representam um verdadeiro desligar da rotina profissional — essencial para recuperar o cansaço físico e mental, desligando das rotinas e horários.
O problema surge quando, ao regressar, nos deparamos com:
- Ambientes de trabalho tóxicos
- Excesso de tarefas acumuladas
- Falta de reconhecimento
- Jornadas de trabalho longas
- Pressão para “recuperar o tempo perdido”
👉 Tudo isto pode transformar o regresso num momento de stress em vez de renovação. Este reinício muitas vezes é acompanhado por sintomas de ansiedade antecipatória, insónias nos dias que antecedem o regresso à atividade laboral.
Como preparar um regresso ao trabalho mais equilibrado?
A Psicologia dá-nos várias estratégias práticas para ajudar nesta transição:
- Preparação gradual
Evita voltar ao trabalho no dia seguinte ao fim das férias. Reserva, se possível, 1 ou 2 dias para te reorganizares mental e fisicamente.
Voltar de uma viagem diretamente para o escritório aumenta o desconforto e mau estar, podendo gerar em algumas pessoas mais ansiedade.
- Evita a “culpa por descansar”
Muitas pessoas sentem culpa por terem estado de férias, especialmente em ambientes competitivos. Lembra-te: descansar é necessário, não um luxo.
- Retoma a rotina aos poucos
Nos primeiros dias, prioriza tarefas simples e organiza a agenda sem sobrecargas. Dá tempo ao teu corpo e mente para se ajustarem novamente ao ritmo laboral.
- Cuida da saúde mental e física
Mantém alguns hábitos positivos das férias:
🌿 caminhadas, leitura, refeições calmas, tempo sem ecrãs, pausas regulares.
Se funcionaram nas férias, podem continuar no quotidiano.
- Faz um balanço do teu bem-estar profissional
Se o regresso é extremamente penoso, talvez seja altura de questionar a relação com o teu trabalho.
- Sentes-te realizado/a?
- Tens equilíbrio vida pessoal/social-trabalho?
- O ambiente é saudável?
Se as respostas forem maioritariamente negativas, pode ser importante procurar apoio psicológico para clarificar o que está em causa e que mudanças são possíveis.
Quando é necessário procurar ajuda?
Nem sempre o mal-estar se resolve com um “vai passar”. Em alguns casos, o regresso ao trabalho ativa sinais de alerta emocional:
- Choro frequente
- Ansiedade antecipatória (dias antes de voltar)
- Ataques de pânico
- Insónias prolongadas
- Sentimento de apatia ou inutilidade, desvalorização
- Pensamentos negativos persistentes sobre o trabalho
Nestes casos, consultar um psicólogo pode ser um passo essencial. A Psicologia pode ajudar a compreender o que está por trás do sofrimento associado a estes sintomas, a identificar gatilhos, ressignificá-los e construir estratégias eficazes para lidar com ele.
O papel da Psicologia no regresso ao trabalho
O acompanhamento psicológico pode apoiar-te em várias áreas:
✔️ Gestão da ansiedade e do stress
Aprender técnicas de regulação emocional, treino de respiração, mindfulness ou reestruturação do pensamento, treino de resolução de problemas, treino de inoculação do stress, entre outros, podem certamente constituir fatores facilitadores para um regresso ao trabalho com mais satisfação e o bem-estar.
✔️ Reorganização de prioridades
Com apoio, é possível repensar o papel que o trabalho ocupa na tua vida, e desenvolver uma maior consciência das tuas necessidades, limites e valores.
✔️ Burnout e exaustão emocional
Se o trabalho é fonte contínua de sofrimento, é fundamental abordar sinais de burnout com um profissional que ajude a recuperar o equilíbrio antes que o desgaste se torne crítico.
✔️ Transições de carreira ou reconversão profissional
O desconforto sentido após as férias pode indicar que o ciclo profissional atual está a terminar. A Psicologia também pode ajudar a preparar mudanças com segurança e propósito.
Conclusão
Voltar ao trabalho após as férias não precisa de ser vivido com desconforto e ansiedade. Com preparação, escuta interna e apoio psicológico, este momento pode tornar-se uma oportunidade de reflexão, reajustando aspetos que poderão não ter ficado bem estruturados antes das férias.
Se estás a sentir resistência, tristeza ou ansiedade no regresso, não estás sozinho/a. Cuida da tua saúde mental e não hesites em pedir ajuda.
Porque um trabalho que te esgota não é apenas “difícil” — é uma questão de saúde.