As férias terminaram e o calendário avança. Setembro (ou janeiro, para quem inicia o ano civil com nova energia) é, para muitos, um segundo “ano novo”. Com ele, surgem novas rotinas, desafios e muitos de nós questionamo-nos:
“E agora? Como retomar o ritmo e traçar novos objetivos?”
O regresso ao trabalho pode ser um momento difícil, marcado por cansaço, desmotivação ou ansiedade. Mas também pode ser uma oportunidade para redefinir metas, reencontrar sentido e investir no crescimento pessoal e profissional.
Este artigo ajuda-te a compreender este processo do ponto de vista da Psicologia, à luz da realidade portuguesa, e oferece estratégias práticas para começares este novo ciclo com mais equilíbrio e clareza.
O impacto emocional do regresso ao trabalho
É perfeitamente natural sentir alguma resistência no regresso ao trabalho, especialmente após um período de descanso mais prolongado. O chamado “síndrome pós-férias” não é uma doença, mas sim um conjunto de sintomas — fadiga, irritabilidade, falta de concentração — associados à transição abrupta entre o lazer e a responsabilidade.
Alguns dos fatores que podem influenciar esta experiência:
- Excesso de trabalho acumulado
- Disparidade entreas funções desempenhadas e os interesses pessoais e profissionais
- Ambiente laboral stressante
- Dificuldade em estabelecer novos objetivos, definir limites
A boa notícia? O desconforto leva a que procure o seu significado, potenciando ações comprometidas com o que quer de fato para a sua vida profissional.
Definir um “ano novo profissional”: por onde começar?
- Aceita a transição
Começa por validar o que sentes. O regresso não tem de ser feito com euforia.
Aceita que precisas de tempo para reencontrar o ritmo e sê gentil contigo próprio.
📌 Dica: Evita reuniões ou tarefas complexas no primeiro ou segundo dia. Recomeça com organização, não com pressão.
- Reavalia o teu percurso
Este é o momento ideal para parares e perguntares:
- Estou onde gostaria de estar?
- O que me entusiasma no meu trabalho?
- O que gostaria de mudar?
A Psicologia defende que o autoquestionamento é o primeiro passo para um processo de desenvolvimento pessoal com vista a um maior e melhor crescimento.
📌 Dica: Escreve um diário breve com estas reflexões. Dar-lhes forma escrita torna-as mais claras e acionáveis.
- Define objetivos realistas e motivadores
Evita resoluções vagas como “quero ter sucesso” ou “ser mais feliz no trabalho”.
Prefere objetivos SMART:
- Specíficos (concretos)
- Mensuráveis (quantificáveis)
- Atingíveis
- Relevantes
- Temporais (com prazo)
📌 Exemplo: “Quero terminar o curso de especialização até junho” ou “Quero melhorar a minha comunicação com a equipa nos próximos 3 meses”.
- Cuida da tua saúde mental no trabalho
Se o regresso está a ser particularmente difícil, é importante escutar os sinais do corpo e da mente:
- Tens dores de cabeça constantes?
- Evitas interações sociais no trabalho?
- Sentes um vazio ou desmotivação contínuos?
📌 Dica: Nestes casos, procurar apoio psicológico não é um luxo — é um investimento em ti. Em Portugal, tens acesso a psicólogos através do SNS ou por via privada.
- Gere melhor o teu tempo e energia
Um dos maiores motivos de desgaste no trabalho não é a carga em si, mas a forma como o gerimos.
Estabelecer prioridades, dizer “não” quando necessário, fazer pausas, evitar a multitarefa constante — tudo isso reduz o stress e aumenta a produtividade.
📌 Dica: Utiliza técnicas como o “time blocking” ou o “Pomodoro” para organizar os teus dias de forma mais saudável.
- Investe na tua formação e desenvolvimento pessoal
Aprender algo novo é uma excelente forma de renovar a motivação. Pode ser algo diretamente relacionado com o teu trabalho, ou não — desde que te desafie e alimente a tua curiosidade.
📌 Dica: Em Portugal, existem muitas formações gratuitas ou comparticipadas, inclusive promovidas por autarquias, IEFP ou universidades.
O papel da Psicologia neste processo
A Psicologia pode ser uma aliada poderosa no processo de identificação e definição de objetivos, assim como a reintegração emocional e profissional. Entre os serviços mais procurados nesta fase destacam-se:
- Aconselhamento psicológico individual
- Intervenção breve focada em transições profissionais
- Grupos de apoio para stress laboral
A ajuda de um psicólogo pode clarificar gatilhos, promover a autoestima, trabalhar a motivação e desenvolver competências relacionais e emocionais — todas essenciais para uma vida profissional mais realizada.
E o contexto legal em Portugal?
Do ponto de vista jurídico, os trabalhadores em Portugal têm direito:
- A um período anual de férias remuneradas (mínimo 22 dias úteis)
- A pausas no horário de trabalho
- Ao direito à formação contínua
- Ao direito à proteção da saúde mental e segurança no local de trabalho
Estes direitos estão consagrados no Código do Trabalho e devem ser respeitados pelas entidades empregadoras, servindo também de base à promoção do bem-estar psicológico dos colaboradores.
Conclusão
O regresso ao trabalho pode ser mais do que o fim das férias. Pode ser o início de um ciclo com sentido, foco e motivação renovada.
Ao cuidar da tua saúde mental, promovendo estratégias de auto-cuidado, definir objetivos realistas e respeitar o teu ritmo, estás a facilitar um ano profissional mais equilibrado e satisfatório.