A Importância do Brincar em Tempo de Férias

As férias escolares são vistas, por muitos adultos, como um desafio logístico: “Como manter as crianças ocupadas durante tanto tempo?”. No entanto, do ponto de vista psicológico e emocional, as férias são também uma oportunidade valiosa para que as crianças façam o que fazem melhor: brincar. 

Este artigo explica, de forma simples e com base no contexto da psicologia em Portugal, porque o brincar em tempo de férias é vital para o desenvolvimento saudável das crianças, permitindo que explorem e desenvolvam outras competências. E mais importante: como podemos, enquanto adultos, promover espaços e tempos para essa brincadeira acontecer de forma livre, segura e significativa. 

 

  1. Brincar é uma necessidade, não um luxo

A Convenção sobre os Direitos da Criança (ratificada por Portugal) reconhece o direito da criança ao descanso, ao lazer e ao brincar. Este não é um detalhe legal: é o reconhecimento internacional de que o brincar tem valor em si mesmo. 

A ciência psicológica confirma: brincar é essencial para o desenvolvimento emocional, cognitivo, motor e social das crianças. Não se trata de “perder tempo” ou de “encher os dias” – trata-se de um processo fundamental para que cresçam saudáveis, equilibradas e felizes. 

 

  1. Porquê dar mais espaço ao brincar durante as férias?

Durante o ano letivo, os horários são apertados e as exigências escolares intensas. As crianças vivem sob um ritmo muito semelhante ao dos adultos – cheio de tarefas, responsabilidades e pouco espaço para a espontaneidade. 

As férias oferecem uma pausa saudável para o cérebro e para o corpo. É neste tempo livre que as crianças: 

  • Reduzem os níveis de stress e ansiedade 
  • Recuperam da fadiga física e emocional acumulada 
  • Estimulam a criatividade e a imaginação 
  • Desenvolvem competências sociais em contextos informais 
  • Constroem autoestima e autonomia 

 

  1. Tipos de brincadeira e os seus benefícios

Existem vários tipos de brincadeira, todos com papéis importantes no desenvolvimento: 

🎭 Brincadeira simbólica 

Ex.: Faz-de-conta, representar papéis, criar histórias
💡 Benefícios: Expressão emocional, empatia, resolução de conflitos internos 

🧩 Brincadeira construtiva 

Ex.: Construir com blocos, desenhar, modelar
💡 Benefícios: Coordenação motora fina, planeamento, resolução de problemas 

Brincadeira motora 

Ex.: Correr, saltar, jogos de bola, andar de bicicleta
💡 Benefícios: Desenvolvimento físico, regulação emocional, noção de espaço 

👨👩👧 Brincadeira social 

Ex.: Jogos em grupo, jogos de tabuleiro, desafios com amigos
💡 Benefícios: Cooperação, negociação, desenvolvimento da linguagem e regras sociais 

 

  1. O papel dos adultos: facilitar, não controlar

Muitos pais sentem a pressão de “organizar” constantemente a agenda das férias. Contudo, as crianças precisam de regras e limites adequados aos parâmetros desenvolvimentais, e não de uma agenda de atividades estruturadas a toda a hora. Precisam, sim, de tempo livre para explorar novos contextos, segurança e disponibilidade emocional por parte dos adultos. 

Algumas dicas práticas: 

  • Cria um ambiente seguro onde a criança possa brincar livremente 
  • Reduz o tempo de ecrãs para estimular o jogo físico e criativo 
  • Participa, sempre que possível, nas brincadeiras (mas sem dominar) 
  • Valoriza o tempo de brincadeira como momento de crescimento e não como “tempo perdido” 

 

  1. Brincar também ajuda na regulação emocional

Durante as férias, as crianças podem aproveitar o brincar para expressar emoções que não conseguem verbalizar. Através do jogo, representam conflitos, medos, desejos e vivências que, de outra forma, poderiam passar despercebidas. 

Este é um dos motivos pelos quais, em contexto clínico, a terapia com crianças se faz muitas vezes através do brincar e do jogo simbólico. O brincar é o “Idioma natural” da infância. 

 

  1. E as crianças com dificuldades emocionais ou comportamentais?

Para crianças com perturbações do neurodesenvolvimento, ansiedade, dificuldades de socialização ou outros desafios, o tempo de férias pode ser tanto uma oportunidade como um risco. 

Nesses casos, a intervenção de um/a psicólogo/a pode ser essencial para: 

  • Ajudar a família a estruturar rotinas equilibradas 
  • Promover brincadeiras terapêuticas e adaptadas 
  • Ajudar na gestão de comportamentos mais difíceis durante as férias 
  • Estimular a integração social através do jogo 

 

Conclusão 

Brincar é crescer. Brincar é regular, ressignificar experiências. Brincar é descobrir-se a si próprio, ao outro e ao mundo.
As férias não são apenas um intervalo do ano escolar – são uma oportunidade preciosa para nutrir o desenvolvimento emocional, psicológico e relacional das crianças. 

Enquanto sociedade, é importante que continuemos a defender o tempo de brincar como uma prioridade. E enquanto pais, educadores ou profissionais da psicologia, a nossa missão é garantir que cada criança tem o seu espaço para o fazer, com alegria, segurança e liberdade.